segunda-feira, 31 de março de 2014

Os pés amachucados lambiam os pedregulhos - amavam-se, pois foram ensinados a crer que há um sigiloso prazer na dor.

Pouco acima, mas não menos subservientes, flutuantes olhos enfastiados bebiam as borralheiras nuvens que nodoavam o ilacrimável céu: Rogavam-lhe a expiação.

Ante a cena da errática mulher, os deuses silenciaram, uma vez que soubessem não haver maior penitência do que esta.

Ensandecida por sua própria consciência cingida de vozes silentes, Pandora sucumbiu, jacente na mesma encosta seixosa em que outrora buscara uma pauta luzidia no canto fúnebre de Calíope.

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012


A primavera de Botticelli
O dramaturgo idílio de Orfeu

A serpente mundana elevou-a ao submundo: 
O veneno fez-se sangue nas entranhas
e o berço abobado converteu-se a sepulcro.

O inferno fazia-se na arcada de Orfeu:
erma, de invejável acústica,
onde se consagrava sua aorta intérprete.

O boêmio inebriava-se nos lábios das musas:
Euterpe e Polímnia amavam-no,
esmorecidas pelo fulgor de Melpômene.  

As tíbias noites eram de Tália,
regadas por vazios cálices ordenhados de Calíope,
enlevadas na alegoria e êxtase de Terpsícore  

Uma legião de mortos afrontou a lira de Orfeu,
alheia ao suave tiquetaquear das cordas da agrura,
apáticos aos acordes carnais que já não percutiam no seio.

A clareira fez-se muda:
Musas cosiam os dedos ao cérebro,
num retalhado bordado poético.   
Ashes, 14 de dezembro de 2012


sexta-feira, 19 de outubro de 2012


Um breve texto de minha autoria, breve, tão breve quanto o ar da vida:

Celibatário sudário vai ao chão com o primeiro sopro de Baco;
correligionários, embevecidos no ópio do desespero,
agarram-se no Euro que eleva o pó aos céus:
pobres diabos tornam ao barro, asfixiados pela gravidade.

O amor de Apolo concedeu a Jacinto a coroa de espinhos,
 e a fúria de Zéfiro foi cunhada a pregos,
enquanto apolíneos diziam: “antes flor do que corpo”,
era a pútrida carne que não enaltecia os mitos.

O romantismo sobre a jóia de Hades não era o bastante,
Jacinto galgara para si o fatídico sacrifício:
 Ingênuas Ovelhas comiam de sua carne,
santificada a cada boca, ponto, parágrafo, conto.

Um exércitos de Augustus degolaram Quimera,
atearam fogo em Atenas, urinaram em Alexandria,
estupraram as musas, abortaram Galileus.

O amor de Apolo concedeu a Jacinto a coroa de espinhos,
 e a fúria de Zéfiro foi cunhada a pregos,
enquanto apolíneos diziam: “antes flor do que corpo”,
era a pútrida carne que não enaltecia os mitos
.

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Manifesto afro-lusitano-tupinambá.

"Senado aprova cota de 50% nas universidades federais".

Operários - Tarsila do Amaral
Comecemos pelo ensino público, o exímio, o adorável e fantástico ensino público! Por que melhorá-lo para que se equipare ao grau de aprendizado das escolas particulares? Não! Obviamente, não, desconsideremos a parcela da classe média que das tripas fez coração, rim e pulmão para manter seu filho afastado do ensino precário e das violências das escolas públicas - gentinha tola!

Uma coisa afirma-se com grande convicção: Robin Hood não estabeleceria cotas referentes a isto, quando é sabido que nelas não se tira do rico em prol do pobre, mas se partilha a moeda que possui classe média, esta peça de metal que, uma vez quebrada ao meio, não valerá metade para cada, mas sim resumir-se-á a nada para ambos.

Quanto aos negros, compensemos os anos de exclusão e atrocidades na sociedade escravocrata ao incitar o racismo e depreciar a capacidade mental daqueles que têm maior quantidade de melanina na pele.

Tona-se fortuito como muitos dos defensores da causa mantém seus filhos em escolas pagas, tendo condições para metê-los em uma boa faculdade particular a posteriori. Ora! Defensores são aqueles que aplaudem e acham belas as publicidades com loiras de encanto marmoreamente europeu. E depois, munidos de uma máscara de hipocrisia intransponível, arguem que o objetivo das cotas não é outro, se não inserir o negro na sociedade. O trivial detalhe é que se olvidam de exibir ao brasileiro que não há branco que não tenha os pés bem marcados nas senzalas, ou mesmo "português nascido no Brasil" que não possua, nas cãs de seus antepassados, algumas penas de pássaros tupis.

No Brasil não há branco, preto, pardo, índio. Há tudo num só ser. Que farão? Retalhar e partir o bebê segundo suas ascendências?

quinta-feira, 5 de julho de 2012

Desfigurado poema das vielas cerebrais.

Caminho por ruelas inertes, afasto-me do pranto aturdido das avenidas pavimentadas com grossas camadas de frustração. Numa depressão aberta na terra impassível, refugio-me das frígidas brisas dos becos iluminados por turíbulos, estas que aquecem sepulcros esquecidos em alguma greta do século de meus 17 anos. Em suma? A inexpressão é apenas a notocorda de um embrião forjado através do óvulo da inocuidade e do espermatozóide do martírio. O zéfiro soprou em meus ouvidos a triste situação: firmes muralhas de meu relacionamento soterradas por mares de morro, asfalto, longos quilômetros.

  

sexta-feira, 23 de março de 2012

As nótulas, comentários ou quaisquer visões aqui presentes ficam sob a égide da opinião pessoal, portanto, as perspectivas de tal documento mantém-se incautas e sem as nódoas de uma moral quimérica compelida por uma sociedade hipócrita.

Perdoem-nos, leitores coagidos, pelo prefácio acima, porém, sendo este texto de uma autoria suspeita e desconhecida para vocês. Faz-se necessário, portanto, um prelúdio para que deixemos manifestos alguns princípios e idéias exordiais uma vez que sejam esses os alicerces para qualquer campo que eventualmente entremos.

Ora, basta de demorar-se numa introdução para alguns dispensável. Adentremos, pois, os portais clandestinos da mente de quem lhes escreve.

Concentra-se no Brasil uma variedade imensa de coloração de pele, não há raças ou táxons em que se possa classificar esta ou aquela parte de uma população. São todos uma matiz de diversas origens.

O Brasil, sendo uma mistura de “raças”, torna-se execrável a presença do que insistem em alcunhar “racismo”.  Eis aqui o povo que jamais poderá olhar para um de seus integrantes e ciciar: “você é preto, inferior”, ou “você é branco, seu nojento”. Nos negros há as mãos brancas de caucasiano e nos brancos, as pintas do afro.

Muito embora determinado indivíduo não possua esta ou aquela etnia em seus ascendentes, a partir do momento que ele crave seus pés nos solos deste país e ostenta-se “brasileiro” sucumbe o direito de disseminar o racismo.

Quantos brasileiros não enfunam-se ao dizer: “sou descendente de portugueses”, “meus avós eram alemães”? Ora, obviamente são leigos e ignorantes, não possuem uma noção de história, sequer de atualidades.

Os tão famosos descendentes de lusitanos deveriam rememorar-se de que, na época da colonização, os únicos portugueses digníssimos mandados ao Brasil enquadravam-se em três classes: deliquentes, prostitutas e pobres sem expectativa de vida em sua terra.

Ou ainda, exponhamos a situação atual de Portugal: um dos integrantes do PIIGS e agora entre os “Stupid”. À medida que a primeira sigla faz alusão ao péssimo desempenho econômico, sendo adornado por desemprego, crises e aumento de impostos no país; a segunda nomenclatura prenuncia os países suscetíveis à falência e, sim, adoráveis leitores, uma das mais bravas metrópoles está entre eles, degradante, não?

Quanto aos alemães, foi a classe baixa atraída pela doação de terras na época da imigração. Sobejando a pergunta: a nata alemã precisaria submeter-se a receber propriedades em um país desenvolvido?

Antecipe-se que aqui não há preferência por este ou aquele, nem mesmo a presença de xenofobia, apenas uma crítica àqueles brasileiros que orgulham-se de ser algo que nem mesmo são.
  
Observem abaixo um texto retirado do site da ufpa a respeito da instauração da cotas  para negros:
“O projeto de lei que quer garantir 20% das vagas para negros e pardos em todos as universidades do Brasil vem gerando opiniões opostas em toda a sociedade. Argumentos contra e a favor é que não faltam. De um lado aqueles que historicamente foram escravizados e discriminados e que vêem nesta política uma forma de diminuir as desigualdades sociais entre negros e brancos no país. E de outro, aqueles que se sentem prejudicados por verem as suas chances de passar no vestibular diminuídas, e injustiçados por sentirem que desta forma estarão pagando por políticas mal elaboradas, que não incluem todos de forma igualitária.
O Rio de Janeiro foi o primeiro estado brasileiro a adotar o critério das cotas para negros. As duas universidades estaduais - UERJ, na capital, e UENF, em Campos - reservam 40% de suas vagas para negros e pardos, o que já ocasionou grande polêmica por lá.
Aqui no Pará, o Centro de Estudos e Defesa do Negro no Pará, (Cedenpa) é uma entidade que se mobiliza para que esta idéia dê certo. Criado em 10 de agosto de 1981, o Cedenpa trabalha contra a discriminação racial e tenta abrir espaço para a população negra no estado do Pará. Segundo a professora Zélia Amador de Deus, uma das fundadoras do movimento negro, dados do IBGE e do Ipea ( Instituto de Pesquisas Econômicas e Aplicadas) apontam que os negros acumulam desvantagens em todos os setores da vida, seja na questão da moradia, da renda, do trabalho ou da educação.Desvantagens estas que têm sua razão na história da escravidão e que são reforçadas pelo racismo.
"A nossa luta é que os negros saiam do patamar de desvantagem e passem a alcançar um patamar de igualdade em relação aos outros grupos que não foram vítimas de discriminação".diz a professora”

Não seria a instauração de cotas uma forma de depreciação implícita?
É o humano um ser indigno, seja ele branco, negro, amarelo ou azul.

Ora, não creiam, leitores, que somos sociopatas, apenas não contemplamos na humanidade uma faísca rota de esperança ou bondade sequer, o alicerce de nossa perspectiva baseia-se na ideia de que uma sociedade é constituída por seres repugnantes, hipócritas, os quais insistem em pregar a igualdade, mas em seu âmago e em suas próprias ações cotidianas, desmentem-se a si mesmos a e as ideologias que professam.

Ficam aqui as palavras de Machado de Assis: "Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado da nossa miséria".

domingo, 19 de fevereiro de 2012

Deviantart ~>
Alone ~ Charmaine2
Sinto-me farto, indisposto, sonolento. Assim me põe o calor, mormaço que dá à letargia um eloquente toque de surrealismo penoso. Hoje fica Cecília, adorável Cecília:
"Permita que eu feche os meus olhos,
pois é muito longe e tão tarde!
Pensei que era apenas demora,
e cantando, pus-me a esperar-te.
Permita que agora emudeça:
que me conforme em ser sozinha.
Há uma doce luz no silêncio, e a dor é de origem divina.
Permita que eu volte o meu rosto para um céu maior que este mundo,
e aprenda a ser dócil no sonho como as estrelas no seu rumo.".